domingo, 10 de junho de 2012

Fundamentação teórica da ACD

Para fins didáticos, é possível separar duas vertentes da ACD:  a fundamentação teórica e a fundamentação metodológica, resaltando que essa divisão apenas facilita a visualização, mas na verdade, a teoria e o método não podem ser separadas.
 Na primeira vertente, podemos pontuar:
1) Discurso como prática social: o discurso é uma prática social que se realiza por intermédio de gêneros textuais específicos. Essa concepção tem 3 implicações:
a- o principio de que os individuos realizam ações por meio da linguagem (teoria dos atos de fala do Austin).
b- o princípio de uma relação bidirecional entre discurso e estrutura social, ou seja, o discurso influencia e é diretamente influenciado pelas estruturas sociais. A ACD procura explicitar como diferentes discursos e estruturas sociais determinam "o que pode e deve ser dito" (Pêucheux, 1982, p. 111), como os textos devem ser interpretados e o que pode e deve ser feito.
c- preocupação com os recursos soiocognitivos dos individuos que produzem, distribuem e interpreta, textos. Para a ACD, os discursos moldam a maneira como os individuos usam seus recursos cognitivos, e os textos significam aquilo que os discursos 'permitem' que signifiquem.

2) O poder constitutivo do discurso:
 O discurso tem efeitos constitutivos (Foucalt) porque por meio dele os individuos constroem ou criam realidades sociais. Faircloug privilegia três aspectos do poder criativo do discurso: a constituição de
a- formas de conhecimento e crenças
b- relações sociais
c- identidades

3) Textos como traços e pistas de rotinas sociais - Opacidade e naturalização
 Faircloug enfatiza a necessidade de analisar os traços e pistas que ocorrem em diferentes gêneros textuais, buscando evidenciar como eles refletem discursos e rotinas sociais.
 Ele resalta que muitas das relações entre linguagem e estrutura são opacas e busca o esclarecimento sobre isso (justificavel pelo termo crítica da ACD). Essa opacidade se dá, além do caráter constitutivo do discurso, pela naturalização criada, isto é, as realidades criadas discursivamente como algo natural, imutável, parte da sua própria natureza.

4) Discurso e relações de poder
 A ACD procura entender como os textos são perpassados por relações de poder (capacidade de fazer uso de algum tipo de recurso para agir) e hegemonia (liderança tanto quanto dominação nos domínios econômicos, politico, cultural e ideológico de uma sociedade).
 Uma contribuição importante é a investigação de como o exercício de poder hegemônico no mundo contemporâneo se mescla com as práticas discursivas.
Faircloug fala em poder no discurso e poder por trás do discurso.
poder no discurso: mais visivel, podendo ser exercido através das palavras ou textos específicos
poder por trás do discurso: determinam qual gênero é mais apropriado para determinadas situações.
 Isso quer dizer que ao mesmo tempo em que uma prática social pode repetir ou reforçar práticas anteriores, pode também desafia-las, questiona-las e mudá-las.

5) Discurso, poder e ideologia
"Todas as ideologias sçao signifcações, embora nem todas as siginificações sejam ideologias" (p.92)
É importante colocar que a ideologia é constituída por significações, formas de ver o mundo, que se manifestam em textos, contribuindo para manter ou mudar formas de poder, uma vez que, a força não é imposta pela coerção, mas sim pelo dicurso, as pessoas são levadas a cooperar consensualmente.

6) Correntes de textos
Adota a perspectiva de Bakhtin na qual diz sobre "corrente ou cadeia de textos: cada texto é precedido por/ responde a textos anteriores e é seguido por outros textos. Os textos são parte de um diálogo em andamento." (p.93) Isso pode ser visto na intertextualidade que frequentemente podemos notar entre os textos.

7) ACD e emancipação
A ACD procura conscientizar os individuos quanto as interligações entre o discurso e as estruturas sociais, representando, portanto, uma forma de luta por mudanças sociais.
" Faircloug acredita: uma vez que alguém se torne consiente do valor ideológico de determinado discurso, pode resistir a ele, e o aspecto ideológico pode consequentemente perder ou diminuir o seu efeito. A compreensão do papel da linguagem como prática social pode cooperar para a emancipação de grupos menos privilegiados." (p.94)

REFERÊNCIAS
MEURER, J.L. BONINI, A., MOTTA-ROTH, D. (ORG.). Gêneros: teorias, métodos, debates. São Paulo: Parábola editorial, 2005.

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