domingo, 15 de setembro de 2013

Sincronia e Diacronia

A relação entre sincronia e diacronia é uma dualidade interna da linguagem (langue e parole), pois esta comporta as duas dicotomicamente, porém o observador deve escolher um dos pontos de vista para estudo.
Sincronia diz respeito à relação entre fatos coexistentes num sistema linguístico, tal como eles se apresentam em um estado de língua ("na prática, um estado de língua não é uma ponto, mas um espaço de tempo, mais ou menos longo, durante o qual a soma de modificações ocorridas é mínima" - p. 117, CLG).
    Essa é a abordagem escolhida por Saussure, pois o falante relaciona-se com a língua sincronicamente, ou seja, ele não precisa estudar as evoluções que sofreram os signos durante o tempo para conseguir utiliza-los em seus enunciados.
    Essa é, também, a abordagem que deve ser considerada para descrever uma língua, pois se isolarmos os signos para estudarmos suas evoluções não conseguiremos analisar o sistema, ou seja, todos os signos se relacionando.
Já a diacronia estuda um elemento ao longo de um determinado período de tempo, vendo sua evolução, seus deslocamentos. Se adotarmos esse tipo de estudo, estaremos fazendo um estudo etimológico, histórico, pois, ao recortar um elemento e analisar sua evolução não é possível descrever o sistema da língua. 
Ainda assim, as formas que estão se desenvolvendo/modificando podem coexistir, pois "um fato diacrônico é um acontecimento que tem sua razão de ser em si mesmo, as consequências sincrônicas particulares que dele podem derivar são-lhe totalmente estranhas (p.100, CLG). 
   Essa relação dicotômica se dá justamente porque a língua em sua essência comporta a sincronia como a diacronia também inter-relacionados, pois é um sistema no qual os signos dependem um dos outros, mas estes também estão a todo momento sofrendo deslocamentos, evoluindo. 
 Além disso, quando um signo se altera (fatos diacrônicos) ele modifica todo o sistema da língua naquele determinado momento (fatos sincrônicos). Porém, o sistema nunca se modifica diretamente, em si mesmo é imutável, apenas alguns elementos são alterados sem atenção À solidariedade que o liga ao todo.
  Como consequência da confusão entre sincrônico e diacrônico, dois casos podem se apresentar:
1) uma das verdades não exclui a outra
2) a verdade sincrônica concorda de tal modo com a verdade diacrônica que se costuma confundi-las ou 
julgar supérfluas desdobrá-las

Resumindo:


"A linguística sincrônica se ocupará das relações lógicas e psicológicas que unem os termos coexistentes e que formam sistema, tais como são percebidos pela consciência coletiva. A linguística diacrônica estudará, ao contrário, as relações que unem termos sucessivos não percebidos por uma mesma consciência coletiva e que se substituem uns aos outros sem formar sistema entre si" (p.116 , CLG) 


sábado, 14 de setembro de 2013

As dicotomias de Saussure

Ferdinand de Saussure foi o primeiro a  olhar para língua como um objeto em si a ser estudo e, portanto, tomar a linguística como uma ciência autônoma sendo considerado, assim, o pai da Lingusitica moderna. Seus estudos foram copilados por seus alunos no famoso Curso de Linguística Geral (CLG) e deram origem ao estruturalismo. 
Para a construção dessa ciência, quatro dicotomias* foram fundamentais:

Sincronia e Diacronia
A sincronia diz respeito à relação entre fatos coexistentes em um sistema linguístico, tal como ele está em determinado momento. Já a diacronia estuda um elemento ao longo de um determinado período de tempo, observando sua evolução.  Essa primeira grande dicotomia tem a maior importância, pois separa os fatores internos de um sistema (sincronia) dos fatores externos, históricos-sociais que condicionam esse sistema (diacronia. Saussure opta pelo estudo sincrônico, em oposição à linguística histórica-comparativa, investigando de que maneira todas as formas e sentidos estão inter-relacionados num determinado sistema linguístico, em determinado ponto no tempo. Entretanto, ele não estava com isso negando a validade da explicação histórica, mas sim que eram complementares e que a diacrônia era dependnete da sincronia, do ponto de vista lógico.

Langue e Parole
A langue (língua) é o sistema (entidade abstrata) da língua, isto é, o conjunto de todas as regras que determinam o emprego de sons, das formas e relações sintáticas necessárias para a produção dos significados. Já a parole (fala) é uma parcela concreta e individual da langue que é colocada em ação por um indivíduo em uma situação comunicativa, em outras palavras, são os possíveis usos do sistema.  Sendo assim, a langue é condição necessária para a existência da parole.

Significante e Significado
Essa dicotomia leva à definição de signo linguístico:
"o signo linguístico une não uma coisa a uma palavra, mas um conceito e uma imagem acústica."
O termo signo poderia ser confundido como apenas a imagem acústica, assim, os termos conceito e imagem acústica foram substituídos:
conceito --> significado
imagem acústica --> significante
A indissolubilidade de significante e significa pode ser comparada a uma folha de papel: se cortarmos essa folha é impossivel recortar uma face sem recortar simultaneamente a outra. Além disso, Segundo Saussure, os dois componentes não devem sua existência a nenhum fator externo à língua, mas tão somente ao fato de que estão em oposição a todos os demais signifcados e significantes previstos pela língua (contrariando a ideia de que as palavras nomeiam seres cuja existência precede a língua e cujas propriedades são determinadas independentemente dela).

 Sintagma e Paradigma 
O sintagma diz respeito aos termos que estabelecem entre si relações lineares, que exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo. Já o paradigma é uma classe de elementos que podem ser colocados no mesmo ponto de uma oração, ou seja, são substituíveis.
Assim, temos em:

O menino chutou a bola

"menino", "chutou" e "bola" ocorrendo sintagmaticamente, pois são encadeamos (ligados) linearmente e possuem dependência entre si. Ainda assim poderíamos substituir "menino" por "criança", "moleque", "garoto",  entre outros, ocorrendo esses últimos paradigmaticamente (pois podem ser substituíveis no mesmo ponta da linearidade).

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*dicotomia pode ser entendida como a divisão de um mesmo objeto em duas partes, em geral contraditórias, mas que se completam e, por tanto, não podem existir uma sem a outra.


REFERÊNCIAS
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. 30ª Edição. São Paulo: Cultrix, 2002. 
LOPES, Edward. Fundamentos da linguística contemporânea. São Paulo: Cultrix.