quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Críticas de Lyons à partida de xadrez de Saussure

Em Lingua(gem) e Linguística¹, John Lyons apresenta algumas críticas à comparação que Saussure faz da língua com uma partida de xadrez. Saussure utiliza tal metáfora para exemplificar uma descrição sincrônica da língua. Segundo ele, o estado do jogo pode ser descrito a qualquer momento quanto à posição em que as peças ocupam, sem que seja preciso saber o que ocorreu antes e o que ocorrerá depois. Assim, mesmo que o tabuleiro esteja em constante modificação, os estados sucessivos de uma partida podem ser descritos sem referências externas. O mesmo ocorre com a língua.
A primeira crítica de Lyons a essa analogia é o fato de um jogo de xadrez ter começo e fim bem delimitado, enquanto que as línguas não. Uma palavra deriva de outra anterior, que deriva de outra antes dela e assim sucessivamente sem que se possa alcançar claramente sua origem - e é por isso que os etimólogos hoje não se ocupam de investigar as origens de um vocábulo, mas apenas afirmar que a forma e o significado do ancestral mais antigo é tal. Também não se pode saber com clareza o momento em que uma língua "morre", a não ser quando isso ocorre abruptamente como com a morte de seu último falante.
Outra crítica diz respeito ao fato do xadrez possuir regras explicitamente formuladas e, assim, os jogadores, dentro desses limites, podem determinar o curso da partida. O mesmo não ocorre com a língua, pois não há uma direção preestabelecida no desenvolvimento diacrônico das línguas.
Apesar de pertinentes, devemos fazer uma resalva a essas críticas. Conforme Chaud (2013) muito bem coloca, Saussure se utiliza dessa metáfora com finalidades didáticas e, como tal recurso, não deve ser tomado ao pé da letra. A metafora deve ser tomada como um recurso para estabelecer identidade, se aplicando somente a algumas características (ORTONY, 1975 apud CHAUD, 2013). Seria plausível se a crítica fosse na essência da comparação, ou seja, na visualização do diacrônico e do sincrônico, o que de fato não ocorre.

¹ Lyons, J. Lingua(gem) e Lingüística: Uma Introdução. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1982.

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